Acamada por 48 anos e ativista: quem é Maria de Lourdes Guarda, brasileira reconhecida como venerável pelo Papa Leão XIV

Maria de Lourdes Guarda nasceu em 22 de novembro de 1926 em Salto, no interior paulista. Ela dedicou grande parte da vida à defesa de pessoas com deficiências e necessidades especiais.

Uma moradora de Salto (SP) foi reconhecida como venerável pelo Papa Leão XIV, um passo crucial no processo de canonização para se tornar santa.

Maria de Lourdes Guarda nasceu em 22 de novembro de 1926 e morreu em 5 de maio de 1996. Ela dedicou grande parte da vida à defesa de pessoas com deficiências e necessidades especiais.

Ela passou 48 anos imobilizada em uma cama no Hospital Matarazzo, em São Paulo, onde coordenou a Fraternidade de Pessoas com Deficiência (FCD). Mesmo acamada, viajou pelo Brasil e pela América Latina, formando mais de 250 grupos da fraternidade.

🔎 Ser “reconhecida como venerável” pela Igreja Católica significa que uma pessoa, já falecida, teve suas virtudes heroicas comprovadas e reconhecidas pelo Papa, e indica que ela viveu de forma exemplar, servindo de modelo de fé e santidade. Ela pode ser considerada Beata caso haja a confirmação de um milagre, e Santa após a confirmação do segundo milagre.

O sobrinho de Maria de Lourdes, Geraldo Geriel Guarda, contou sobre a época em que conviveu com a tia. “Durante o tempo em que a tia Lourdes estava viva e no hospital, eu praticamente cresci nos braços dela. Todos os domingos minha mãe preparava um prato de comida para ela, e eu acompanhava, ficava observando e conversando com ela”, comenta.

A moradora de Salto ficou acamada aos 23 anos, depois de começar a sentir dores na coluna. Antes disso, lecionava no Colégio da Congregação das Filhas de São José do Caburlotto.

Em 12 de agosto de 1947, passou pela primeira de seis cirurgias. No entanto, nada resolveu o problema na coluna. Ela também precisou amputar o pé direito acima do joelho devido às complicações.

O sobrinho conta que, mesmo sem poder se locomover, a tia nunca deixou de trabalhar. Fazia tricô, crochê e a bordados para ajudar a pagar a enfermaria e o quarto.

“O hospital era caro e nossa família tinha pouca renda. Meu pai ajudava com uma parte e a outra ela pagava com seu trabalho. E as pessoas vinham comprar dela”, lembra.

Com o tempo, Lourdes acabou conhecendo uma mulher rica que, segundo o sobrinho, a levou para um quarto particular, onde ela poderia exercer seu trabalho com mais tranquilidade.

“Ela dava conselhos, rezava pelas pessoas, e muitos vinham pedir uma palavra que acalmasse o coração naquele momento difícil. Até que essa mulher rica apareceu e ajudou a tia”, lembra.

A fama de boa conselheira ultrapassou os corredores do hospital, chegando até pessoas famosas.

O sobrinho lembra que Maria de Lourdes viajava pelo Brasil com a ajuda de pessoas, até que ganhou uma Kombi em um bingo. Durante as viagens, fundou mais de 250 grupos da Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência (FCD).

Os últimos momentos

Geraldo lembra que o Hospital Matarazzo, onde a tia morou por quase cinco décadas, sofreu uma intervenção judicial e precisou fechar. Maria de Lourdes, segundo ele, foi a única paciente que continuou nas instalações.

“Mesmo com a ordem do juiz, ela não saía. A tia dizia ‘aqui é a minha casa’. Porém, um dia ela acabou sendo transferida dentro do mesmo hospital, mas para uma ala de pediatria. Ficou sozinha naquele hospital imenso”, comenta.

Apesar de querer lutar pela instituição que a acolheu por tanto tempo, a saúde de Maria de Lourdes estava debilitada. Ela morreu em maio de 1996.

“Ela tinha muitos problemas de saúde, já não tinha a perna direita, o rim direito e o pulmão direito. E, com a idade avançada, foi descoberto um câncer na bexiga. Nesse meio tempo, ela foi transferida para outro hospital, onde as madres a acolheram. Foi lá que ela morreu. Aliás, uma coisa extraordinária aconteceu um ano depois da morte dela, todos os que trabalhavam no Hospital Matarazzo receberam suas rescisões. Até essa causa atribuem a ela”, conta o sobrinho.

A história da venerável é contada no livro “Um Quarto com Vista para o Mundo”, dos autores Margarida Oliveira e Guilherme Salgado Rocha, publicado em 2018.

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